Vários pacientes meus chegam na primeira consulta já informando que deixaram de tomar leite (de vaca) ou estão reduzindo. Disseram que passaram num médico e no exame de alergia acusou lá um valor. Outros, nem fizeram exame e decidiram parar de consumir ou reduzir por conta própria, afirmando que melhoraram o estufamento gástrico. Vamos aos fatos que são realmente comprovados:
- Alguns bebês nascem com alergia à caseína do leite, ou outras proteínas lácteas, e isto é fato.Podem, e devem, quando bebês tomar leite materno desde que a mãe elimine todos os lácteos da sua dieta durante a amamentação. E ao longo da vida esta criança não poderá comer laticínios.
- Alguns bebês nascem sem a capacidade de produzir as enzimas lactases, capazes de digerir o açúcar do leite conhecido como Lactose. Esses recém nascidos com esta doença congênita precisam de atendimento urgente nas primeiras horas de vida, pois podem desidratar rapidamente.
- A quantidade de enzimas pode tornar a digestão mais lenta e gerar gases, causando a intolerância ao leite. A produção de maior ou menor quantidade de enzimas lactase depende de alguns fatores como: idade, raça, doença intestinal como celíaca, Crohn e outras. Nem todo idoso terá intolerância, embora seja bem comum.
Agora eu pergunto: uma pessoa que nasceu normal, sem doença congênita para alergia ou falta de produção de lactase, que sempre tomou leite e, de repente, começa a passar mal quando toma ou come algum laticínio, pode realmente ter desenvolvido uma intolerância? Ou, assim como já apareceu nos artigos sobre o glúten, não seria também parte da cultura atual ou da pressão das mídias? Tudo é possível. Eu mesma, sou ovolactovegetariana, muito de vez em quando como um peixe de águas profundas e frias, mas de manhã eu prefiro tomar bebida vegetal. Mas, não passo mal se vou num hotel e só tem leite de vaca. O mesmo se só tiver pão com trigo. São minhas exceções fora da minha rotina. Mas, porque eu não falo para pacientes tirarem o leite e sim reduzirem? Pelas polêmicas e falta de estudos conclusivos. Realizei uma pesquisa com mais de 20 artigos com não mais de 5 anos, padrão ouro e separei os seis mais interessantes, que usei como referência nos textos abaixo. Ao final, deixei as referências para quem quiser ler mais de cada um dos tópicos. Leia e tire suas conclusões.
Leite: Um Alimento Comum, Mas Será Que É Para Todos?
O leite de vaca faz parte da nossa alimentação desde a infância, crescendo com a fama de ser uma super fonte de cálcio e nutrientes. Mas, nos últimos tempos, muita gente tem buscado alternativas, seja por questões de saúde, estilo de vida ou até preocupações com os animais. Afinal, o leite de vaca é realmente tão bom assim? Será que faz mal? E quais são as opções para quem não quer ou não pode consumir? Vamos descobrir.
Coração tranquilo? O Leite e as Doenças Cardíacas
Já ouviu falar que o leite pode fazer mal para o coração? A verdade é que a ciência ainda não chegou a uma conclusão definitiva sobre isso. Mas um estudo recente feito com mulheres coreanas após a menopausa trouxe uma informação interessante: quem consumia leite de vaca com frequência tinha um estado nutricional melhor e um risco menor de ter problemas cardíacos. Isso não significa que o leite seja uma “vacina” para o coração, mas pode ser um aliado, principalmente para mulheres nessa fase da vida. Porèm, ao se comparar com leite de soja (que anda sumidinho das prateleiras aqui no Brasil), aí a soja leva vantagem nesse ponto. Eu falo mais, abaixo.
Câncer de Mama: O Leite Acende o Sinal de Alerta?
Se o leite pode ser bom para o coração, será que ele faz mal para outras partes do corpo? Um estudo feito nos Estados Unidos acendeu um sinal de alerta em relação ao câncer de mama. As mulheres que bebiam mais leite de vaca tinham um risco maior de desenvolver a doença. O lado bom é que, ao substituir o leite de vaca por leite de soja, esse risco diminuía. Ou seja, este artigo sugeria que talvez, valesse à pena rever as recomendações para ingestão de leite de vaca. Vários estudos corroboram para a ideia do estrogênio da vaca prenha (sim, a indústria leiteira modifica hormonalmente a vaca para que ela continue dando leite mesmo prenha, então, prefira leite orgânico) tem implicado em índices de câncer de mama e de próstata.
Basicamente, alguns estudos recentes têm mostrado que o consumo de leite de vaca pode aumentar o risco de câncer de mama com receptores hormonais positivos. O problema é que o leite estimula a produção de uma substância chamada IGF-1, que pode favorecer o desenvolvimento desse tipo de câncer. Além disso, o tipo de leite (pasteurizado, UHT, fermentado) e a forma como ele é consumido (na infância, na adolescência, na vida adulta) também podem influenciar o risco. Meu professor e médico ayurvédico (Ayurveda é a medicina indiana, baseada em ciência, existente há mais de 4.500 anos e da qual beberam a medicina chinesa. Hoje, a nossa medicina moderna, de pouco mais de 200 anos, comprova textos ayurvédicos) diz que os textos antigos não proíbem, aliás incentivam a ingestão de leite recém ordenhado (até 4 horas) de vacas sadias. Bem, difícil é chamar hoje uma vaca de sadia: cheias de hormônios, criadas na ração de soja cheia de isoflavonas, e muitas vezes gripadas. Então, eu tomo com muita parcimônia e recomendo o mesmo aos meus pacientes que adoram.
Outros tipos de câncer e a ingestão de leite.
Além do câncer de mama, o leite também foi ligado a outros tipos de câncer em algumas pesquisas. Um estudo que analisou diversos tipos de câncer encontrou uma relação entre o consumo de leite e um risco maior de câncer de bexiga e trato urinário. Por outro lado, o leite parece proteger contra o câncer colorretal. A mensagem aqui é que a relação entre o leite e o câncer é complexa e depende de cada caso.
Ossos Fortes: O Leite É a Única Opção?
Com o passar do anos, na entrada da menopausa, nossos ossos vão se desmineralizando, ficando mais finos, sendo importantíssimo aumentar a ingestão de cálcio na dieta e suplementos. O cálcio é essencial para ter ossos fortes e prevenir a osteoporose, e o leite é famoso por ser uma ótima fonte desse mineral. Mas será que ele é a única opção? A verdade é que a absorção do cálcio do leite pode variar de pessoa para pessoa, e outros alimentos também são ricos em cálcio, como vegetais de folhas verdes escuras, peixes, nozes e sementes. Além disso, praticar exercícios físicos regularmente é fundamental para fortalecer os ossos. Minha reumatologista, Dra Emilia, sempre recomendou incluir no treino exercícios de impacto, como correr, pular e caminhar, com moderação, para fixação do cálcio.
Leite de Soja: Um Substituto à Altura?
Se você está pensando em substituir o leite de vaca, o leite de soja pode ser uma boa opção. Um estudo comparou a absorção de cálcio do leite de soja fortificado com a do leite de vaca e descobriu que os dois são igualmente eficazes. Isso significa que o leite de soja pode ser um substituto à altura, principalmente para quem tem intolerância à lactose ou segue uma dieta vegetariana ou vegana.
Leite de Vaca x Leites Vegetais: prós e contras
Hoje em dia, existem diversas opções de leites vegetais no mercado, como leite de amêndoas, arroz, aveia, etc. Mas quais os prós e contras entre eles e o leite de vaca? A verdade é que a composição nutricional varia bastante. Em geral, os leites vegetais têm menos proteína e gordura saturada do que o leite de vaca, mas podem ser fortificados com vitaminas e minerais. Por isso, é importante ler os rótulos e escolher a opção mais adequada para as suas necessidades. Algumas bebidas vegetais têm muito açúcar e isso é ruim, principalmente para quem tem diabetes. Eu sempre recomendo o paciente variar, inclusive tomar leite orgânico uma ou duas vezes na semana, ou iogurtes naturais.
Leite de Vaca e Leite de Soja: Qual o Melhor Para o Coração?
Se você está preocupado com a saúde do seu coração, saiba que substituir o leite de vaca pelo leite de soja pode trazer benefícios. Uma análise de diversos estudos mostrou que o leite de soja pode ajudar a reduzir o colesterol, a pressão arterial e a inflamação no organismo. Ou seja, o leite de soja pode ser um aliado para quem quer cuidar do coração.
Conclusão: Leite de Vaca: Vilão ou Mocinho? A Decisão É Sua!
Depois de analisar todas essas informações, fica claro que o leite de vaca não é um alimento perfeito e nem um veneno. Ele tem seus benefícios e seus riscos, e a decisão de consumir ou não depende de cada pessoa. O importante é estar bem informado, conhecer o seu corpo e buscar orientação de um profissional de saúde para fazer a escolha mais adequada para você.
Referências:
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- Fraser GE, Jaceldo-Siegl K, Orlich M, Mashchak A, Sirirat R, Knutsen S. Dairy, soy, and risk of breast cancer: those confounded milks. Int J Epidemiol. 2020 Oct 1;49(5):1526-1537. https://academic.oup.com/ije/article/49/5/1526/5743492
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- Tang, AL, Walker, KZ, Wilcox, G., Strauss, BJ, Ashton, JF, & Stojanovska, L. (2010). Absorção de cálcio em mulheres osteopênicas australianas na pós-menopausa: um estudo comparativo agudo de leite de soja fortificado com leite de vaca. Asia Pacific Journal of Clinical Nutrition , 19 (2), 243–249.https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/20460239/
- Antunes IC, Bexiga R, Pinto C, Roseiro LC, Quaresma MAG. Leite de vaca na nutrição humana e o surgimento de alternativas ao leite vegetal. Alimentos . 2023; 12(1):99. https://doi.org/10.3390/foods12010099
- Melnik, BC, John, SM, Carrera-Bastos, P. et al. O papel do consumo de leite de vaca na iniciação e progressão do câncer de mama. Curr Nutr Rep 12 , 122–140 (2023). https://doi.org/10.1007/s13668-023-00457-0
